2. A flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo



Leitura: Mt 27,27-31; Mc 15,16-20; Jo 19,1-3
A agonia de Jesus no Horto deu-nos a ocasião para meditar nos aspectos interiores da sua Paixão; agora, contemplando sua flagelação, vamos nos deter nos aspectos físicos, externos de seu caminho de dor. Pensando em Jesus flagelado, gostaria de chamar atenção para três aspectos.
O primeiro que nos chama atenção é para a sua dor. A Paixão doeu, doeu muito! Doeu não só moral e espiritualmente, como vimos antes; doeu também fisicamente. Pensemos: as bofetadas no rosto, a punhos cerrados, as cuspidelas abjetas, a dureza do açoite romano (uma espécie de chicote de couro com umas bolinhas de chumbo nas extremidades... Aquilo lá entrava na musculatura e, quando era puxado, trazia consigo pedaços da carne)... Pensemos na coroa de espinhos, o quanto não deve ter doído física e moralmente! Em suma: a Paixão foi real! Não foi um teatro, não se resumiu a palavras bonitas. Doeu, como dói em nós a dor física; foi concreta, dolorosamente concreta. Aqui sim, convido a que nos detenhamos um pouco a imaginar a dor do Senhor...
E que lição impressionante tiramos? Precisamente o segundo aspecto que gostaria de meditar: Deus quis salvar o mundo na concretude da dor, na feiúra da dor, no pranto da dor! Ali, naqueles tormentos, naqueles martírios, Deus estava silenciosamente presente, com seu amor, com sua fidelidade em relação a Jesus e com sua misericórdia em relação ao mundo! Que mistério! Isso nos quer dizer que nos nossos sofrimentos tão dolorosos, tão feios, tão absurdos, no momento de uma tragédia, de uma dor muito grande, de um desastre inesperado, Deus está ali, presente, silenciosamente presente... Como nos é difícil aceitar, como nos é difícil compreender! Talvez não compreendamos mesmo – não há como! Pois bem: pensando em Jesus neste mistério, acostumemos o coração a compreender, a vislumbrar que Deus se faz presente também nas nossas tragédias que têm travo tão amargo, tão forte sabor de absurdo...
Finalmente, um terceiro ponto: como Deus nos ama concretamente! Eternamente sonhou conosco, criou-nos envolvidos de ternura e amor, disse-nos tantas vezes que nos amava, demonstrou o seu amor de tantos modos, prometeu-nos o seu amor... Pois bem, quando chegou a Hora, a misteriosa e terrível hora da cruz, o Senhor não mais nos amou com palavras... amou-nos simplesmente naquela dura madeira, naqueles cravos pontiagudos, naquelas dores tremendas e naquelas gotas rubras de sangue... Assim é o amor: concreto, de carne e osso! Como o amor do homem e da mulher que, se fazendo carne, gera vida e se concretiza, assim também o amor de Deus: faz-se palpável, aparece na carne dilacerada do nosso Salvador! Pois bem! É na concretude da vida, nas ações e situações reais da existência, que somos chamados a dizer ao Senhor: Tu me amaste primeiro; e eu te respondo com amor! Tu me amaste na dor da Paixão; e eu te amo nas paixões da minha vida, porque amor só com amor se paga!