Leitura: Lc
1,39-45 e 1,46-56
Inicialmente, há duas realidades a serem contempladas. Primeiramente, o
sinal dado pelo Anjo: Isabel, já idosa e estéril, estava grávida por obra de
Deus. Tal gravidez prodigiosa era prenúncio da gravidez ainda mais
impressionante da Virgem Maria. Deus é o Deus da vida, Deus do impossível (cf.
Lc 1,37): onde não há vida, ele faz a vida nascer, onde somente há a morte da
esterilidade, sem futuro nem esperança, ele faz brotar a semente bendita da
vida. Por isso, a exultação das mães. A segunda realidade é o espírito de
serviço de Nossa Senhora: sua relação com Deus não é fechada em si mesma,
alienada das necessidades dos irmãos: ela se dirige a Isabel e permanece com
ela até o parto: viajou à casa de Isabel para ver o sinal; lá permaneceu para
ajudar caridosamente – é a prova de uma vida espiritual sadia e centrada no
Deus de amor.
Contemplemos, agora, os três principais personagens desta
perícope:
1 - João Batista: Ele é o Precursor, aquele que existe para
“cursar-antes”, caminhar abrindo estrada: o anúncio do seu nascimento (cf. Lc
1,5-25) prenuncia o anúncio do nascimento de Jesus (cf. Lc 1,26-38); o seu
nascimento e circuncisão (cf. Lc 2,57-66) prenunciam o nascimento e circuncisão
de Jesus (cf. Lc 2,1-21); do mesmo modo, seu ministério e morte prenunciam o
ministério e morte de Jesus. Que nos ensina este fato? Que somos todos envolvidos
no plano salvífico de Deus. Não devemos nos fixar nos nossos planos, mas nos
alegrar por participar de um desígnio muito maior. Nossa vida será verdadeira e
terá sentido, será preciosa aos olhos do Senhor, na medida em que for humilde
disponibilidade ao serviço da santa vontade de Deus. Mais tarde, João dirá: “Um
homem nada pode receber a não ser que lhe tenha sido dado do céu. Não sou eu o
Cristo, mas fui enviado adiante dele. É necessário que ele cresça e eu diminua”
(Jo 3,27-30).
2 - A Virgem Maria: Ela é toda exultação, numa explosão de admiração e
gratidão ao Deus Salvador do seu povo. Pela sua voz é todo Israel que canta a
fidelidade de Deus que invade amorosamente a história humana e faz triunfar o
seu plano de amor e salvação. O Magnificat (cf. Lc 1,46-55) deve ser lido com o
pensamento no Êxodo (quando a outra Maria, irmã de Moisés, cantou e dançou
porque Deus derrubara os soberbos egípcios e elevara o humilde Israel – Ex
15,21), em Ana (que experimentou a ação de Deus, exaltando os humildes e
derrubando os soberbos – 1Sm 2,1-10), em Maria (a pobre esquecida de Nazaré,
elevada a Mãe do Messias), na Páscoa (onde Deus revela de modo definitivo a
força do seu braço, exaltando o Pobre Jesus e julgando o Pecado do mundo) e no
Juízo Final (quando já não haverá noite e toda soberba do mundo será
destruída). Todas as tardes, quando o sol se põe e a escuridão começa a cobrir
a terra, a pobre Igreja, de quem Maria é figura e modelo, canta o hino de
louvor e confiança na misericordiosa salvação de Deus.
3 - Deus: Silenciosamente, é ele o autor da salvação, é ele a causa da
alegria do Batista, do júbilo de Isabel e da exultação de Maria. Seu modo de
agir subversivo da nossa lógica, sua fidelidade desconcertante e seu modo
misterioso e sábio de guiar a história – tudo isso é cantado no
Magnificat.
Todo este mistério nos faz intuir e contemplar um Deus que é próximo,
que age no mundo, que entra na nossa vida, que nunca nos abandona. É um clima
de exultação pela presença de Deus na humilde existência de cada um de
nós...