3. A Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne


Leitura: Lc 2,1-20 
Vamos meditar este mistério tomando três diversos pontos de observação: 
Primeiro: o ponto de vista de Jesus. Quem é este que nasce? É o Emanuel, o Deus-conosco. Ele nasce no meio da noite humana como luz, ele nasce na pobreza, na humildade e na privação: precisa do leite da mãe, do cuidado de José. Nasce Deus dependente, Deus pobre, Deus fraco. É um mistério que jamais poderemos compreender completamente! Imaginamos um Deus grande e potente, e Deus nos ensina um outro caminho – o seu caminho – totalmente diverso do nosso. É um caminho que nos envergonha a todos! Não nos iludamos: jamais compreenderemos este mistério! Em Jesus, Deus quis comunicar-se de forma completa a um outro ser, diferente dele: o Criador quis experimentar ser criatura! Dignou-se se dar de presente a nós, veio a nós. Ele não quis ficar unicamente Deus, não se contentou em nos amar de longe, em debruçar-se sobre nós, simplesmente... Sem deixar de ser o Deus que sempre fora, fez-se homem, fez-se criança, fez-se um de nós! Ele quis saber por experiência o que é ser humano! No século XII, São Bernardo já explicava: “Ouviste dizer que o Verbo se fez carne. E por quê? Porque Deus quis saber o que é ser realmente humano. Mas, Deus já não sabe tudo? Não conhece o que é o homem, o que há nele? Sim! Mas, o amor quer experimentar a realidade do amado. Assim, ele quis conhecer por experiência o que significa a nossa humana realidade!” Pois bem, em Jesus Deus, pessoalmente, desceu para nos fazer subir; fez-se humano para encher a humanidade da vida divina! Quão grande aos olhos de Deus deve ser a criatura humana para que ele quisesse fazer-se um de nós! Grande coisa sim, porque fomos criados grandes, à sua imagem! Ele veio para uma humanidade ferida, veio para nos curar, nos erguer nos salvar... Ele teve compaixão de nossa solidão, de nossa pobreza, de nossa incapacidade de caminhar sozinhos... Veio para nos conduzir à comunhão com o Pai! Ele é um Deus que se faz próximo (cf. Lc 10,25-37). Como dizia Santo Elredo de Rieval: “Ouviste o nome do Menino: Emanuel, Deus conosco. Antes parecia ser Deus sem nós, Deus acima de nós e até mesmo Deus contra nós. Mas, agora, não: é Deus conosco: conosco nas alegrias, conosco nas tristezas, conosco nos trabalhos, conosco no descanso. Eis o seu nome: Emanuel! Nunca mais nós sem Deus; nunca mais Deus sem nós!” 
Segundo: o ponto de vista de Maria e José. Em Belém, tudo é aperto, pobreza, imprevisibilidade: não há lugar para eles, não há tempo para providenciar, não há condições ideais para o parto. Há somente o silêncio de Deus. Como pode ser, um Deus que não cuida do seu Amado, um Deus que não abre portas, que não providencia? Silêncio... Qual a atitude de Maria e de José? Abandono, confiança... E seu fruto é a paz: a Virgem guardava tudo no coração. José, o Guardador de Jesus, faz o que pode, abandonando-se em Deus... 
Terceiro: o ponto de vista dos outros personagens: (a) A simplicidade crente dos pastores, que vêem a Luz e, crendo, enchem-se de alegria, descobrindo a salvação de Deus. (b) A humilde docilidade dos magos que, como Abraão, deixam-se guiar pela luz do Menino, partem sem saber aonde iam e, assim, alcançam o Inalcançável e, cheios de alegria, voltam por outro caminho! (c) A arrogância de Herodes: apegado ao poder, fecha-se para as surpresas de Deus, torna-se medroso e tenta matar a ação de Deus. Somente consegue matar os outros e a si mesmo... (d) A cegueira de Jerusalém, sua descrença, tão pesada e densa, que chega a obscurecer a Estrela do Menino. Na Cidade Amada, não se pode ver a Estrela... Eis um grave risco para nossa alma: tornar-se como Jerusalém!