3. A vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e toda a Igreja



Leitura: At 2,1-41
Primeiro detenhamos sobre o evento salvífico em si, isto é, aquilo que o Senhor realizou para nossa salvação. Cinqüenta dias após a festa da Páscoa judaica, na qual Jesus havia morrido e ressuscitado, os judeus celebravam o Pentecostes. Esta celebração era antiga e tinha para os judeus um rico significado: recordava o dom da Lei, que Israel recebera ao pé do Sinai, cinqüenta dias após deixar o Egito; era também a festa das primícias, pois coincidia com o início da colheita do trigo, que era oferecido ao Senhor como primícias. Para a festa vinham judeus não somente residentes na Terra Santa, mas também aqueles espalhados pelo Império Romano, a grande maioria dos quais não sabia falar o aramaico, que se falava na Palestina. Foi, portanto, durante esta festa que o Espírito Santo, derramado de junto do Pai por parte de Jesus, caiu sobre os Doze, que simbolizavam naquele momento toa a Igreja. Eles, então tiveram uma impressionante experiência sensível: experimentaram no coração o consolo do Cristo ressuscitado, a coragem de proclamar com força a vitória e a salvação que Jesus nos adquiriu e tal experiência, manifestava-se num fato admirável: a pregação de Pedro, o Chefe da Igreja nascente, era compreendida por todos, cada qual na sua língua. A confusão iniciada em Babel, pelo orgulho humano, que desejava soberbamente subir até Deus, agora estava terminada pelo Dom de Deus, o Espírito, que misericordiosamente descia até o homem, enviado por Jesus! O sacrílego orgulho humano gerou e gera somente confusão; a misericórdia salvífica de Deus gerou e gera unidade e comunhão.
Agora, com o Pentecostes, fica claro aquilo que o Evangelho de São João já tinha mostrado desde a tarde do Domingo de Páscoa: que o Espírito do Ressuscitado estaria para sempre conosco, dando-nos vida nova, concedendo eficácia aos sacramentos e guiando-nos na missão de testemunhar Jesus (cf. Jo 20,19-23).
A partir do que ficou dito, avancemos na nossa contemplação:
(1) O Espírito é a nova Lei da nova e eterna aliança: Ele é Espírito de Amor, é o Amor pessoal entre o Pai e o Filho: “Como o Pai me amou (no Espírito), eu também vos amei (dando o Espírito). Permanecei no meu amor (no meu Espírito)” (Jo 15,9); “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). Assim “quem ama cumpriu a Lei porque o amor é a plenitude da Lei” (Rm 13,8.10). Era isso que os profetas haviam anunciado uma nova aliança no Espírito; e essa Aliança nova e eterna, nascida da páscoa do Cristo , permanecerá para sempre na potência do Santo Espírito como aliança de amor.
(2) É isto também que significa que a Antiga Aliança, que estava expressa em preceitos, era uma aliança segundo a carne: era necessário ser judeu para dela participar. Agora, a Nova Aliança é no Espírito, porque a nova Lei é o próprio Espírito que em nós dá testemunho do senhorio de Jesus e da paternidade de Deus, inspirando-nos e impelindo no amor.
(3) Sendo a festa das primícias, o Pentecostes deixa claro que o Espírito Santo é a primícia (o primeiro fruto) da Páscoa do Senhor: a paixão, morte e ressurreição de Jesus nos obteve como dom o Espírito Santo!
(4) Agora, o Espírito vai guiando a Igreja no aprofundamento do conhecimento de Cristo e do seu mistério (por isso, a Igreja crescerá sempre na compreensão das verdades reveladas até que Cristo venha, pois o Espírito a conduzirá sempre à verdade plena); vai cada vez mais tornando-a mais santa pelos sacramentos no qual ele age tornando Cristo presente, vai sustentando a Igreja na missão de testemunhar Jesus pela palavra, pela vida de santidade dos seus filhos e, sobretudo pelo martírio. Então, deixar-se conduzir pelo Espírito é abrir-se à missão de viver e testemunhar Jesus onde estivermos!
(5) No Espírito, cumpre-se, finalmente, a promessa do Senhor, que tanto nos consola: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos!” (Mt 28,20).