Leitura: Lc 2,22-40
Se pensarmos bem, a
Apresentação não é um mistério gozoso, mas doloroso. Doloroso e rico de
significados e lições para a nossa vida com Deus.
A primeira lição é a
da humilde obediência da Sagrada Família à Lei de Deus: “Quando chegou a
plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho nascido de mulher, nascido sob a
Lei para resgatar os que estavam debaixo da Lei” (Gl 4,4s). É comovente
contemplar o Filho eterno do Pai, José e Maria Santíssima submeterem-se à Lei
de Moisés (Lc 2,22.23.24.39), que prescrevia a consagração do macho primogênito
ao Senhor e a purificação da mãe após o parto – quer o parto fosse normal quer
não (cf. Ex 13,2; 13,11). Além da humildade, há duas razões teológicas: Jesus,
sendo o primogênito de José, é o descendente de Davi, o herdeiro das promessas
feitas a Davi, é o Messias-Rei de Israel; além do mais, assumindo a submissão à
Lei, ele nos libertaria da Lei, pois nele toda Lei se cumprirá...
A segunda lição é de
pobreza. José e Maria apresentam a oferta dos pobres: um par de rolas ou dois
pombinhos (cf. Lv 5,7; 12,8). Não têm gado graúdo nem miúdo... O Filho de Deus
nasceu pobre entre os pobres; ele viveu como pobre! Mais uma vez, na
contemplação dos mistérios do terço aparece o mistério da santa pobreza, que
Deus escolhe para confundir a lógica humana, fundada na força, na própria
segurança e na prepotência... Deus ama os pobres, porque eles não confiam em si
mesmos, mas coloca sua confiança no Senhor e por ele esperam. E, na sua
pobreza, José e Maria ofertam tudo quanto têm ao Senhor: ofertam o Primogênito,
o filho único... como a viúva pobre, como nosso pai Abraão no monte Moriá,
entregam tudo quanto possuem, sem nada reter...
Terceira lição: O
Senhor aceita a oferta: o Menino será sinal de contradição e a oferta seria
consumada no Calvário, quando uma espada traspassararia o coração de Maria:
coração íntegro, imaculado, todo ferido, todo vazio de si mesmo, todo oferente
na oferta do Filho. Os pais de Jesus admiram-se e se abandonam nas mãos de
Deus, Senhor do nosso futuro e da nossa vida...
Quarta lição: a
fidelidade de Deus, que aparece na exultação de Simeão e Ana. Esses dois
anciãos são imagens do Antigo Testamento, do Israel que esperou pacientemente,
contra toda esperança. Agora, podem, finalmente, ver a salvação de Deus! Esses
dois personagens nos ensinam a esperar na perseverança, esperar, esperando
pacientemente oDeus de Deus, porque ele é fidelíssimo.
Há ainda, neste
mistério, um sentido litúrgico muito belo. Os orientais chamam esta
apresentação de Jesus de “Encontro”. É o primeiro encontro do Messias com a
Cidade Santa, Jerusalém (cf. Ml 3,1). Ele vem como “Luz para iluminar as
nações e ser glória de Israel, seu povo” (Lc 2,29-32; Is 42,6; 49,6). Por
isso, a liturgia faz, na Festa do Encontro, em 2 de fevereiro, uma procissão
com velas. Aí, a Igreja-Esposa vai ao encontro do Messias-Esposo com as
lâmpadas acesas, prefigurando o Encontro no final dos tempos. Assim a Igreja
deve viver e ser: Esposa vigilante e paciente, que aguarda o seu Senhor!