Leitura: Mt 17,1-9; Mc 9,2-8; Lc
9,28-36; 2Pd 1,16-18
A Transfiguração do Senhor não é
somente um fato histórico ocorrido durante a vida de Jesus neste mundo; é
também um mistério, isto é, um acontecimento que tem um significado para a
nossa fé, um acontecimento que revela algo da pessoa e da missão de Cristo e
algo da nossa salvação. É isto que contemplaremos agora.
Primeiramente, a Transfiguração é uma
preparação para a cruz. “Seis dias depois” (Mt 17,1) de anunciar pela
primeira vez que morreria em Jerusalém, o Senhor toma três de seus discípulos e
se transfigura diante deles. Ou seja, deseja fortalecer a fé de seus discípulos
e mostrar que sua paixão caminha para a glória. Não é por acaso que os mesmos
que estarão no Jardim do Horto, na agonia, foram os escolhidos para vê-lo em
glória no Tabor. Esta idéia aparece ainda muito claro no fato de Moisés e Elias
aparecerem com ele falando “de sua partida que iria se consumar em
Jerusalém” (Lc 9,31). O sentido é muito bonito: Moisés (que representa a
Lei) e Elias (significando os profetas) – Lei e profetas são o Antigo
Testamento – anunciam a “partida”, o “êxodo” de Cristo: “Os profetas
anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse na sua
glória? E começando por Moisés e por todos os profetas, interpretou-lhes em
todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 24,25-26). Tudo isto nos
ensina a guardar nos momentos de luz o sentido do amor e da misericórdia de
Deus, para resistir nas provações dos momentos de sofrimento e de treva!
Um outro belo aspecto: no Tabor
manifesta-se a glória da Trindade: na voz está o Pai, naquele que foi transfigurado
está o Filho bendito, na Nuvem luminosa está o Espírito Santo, que é o Espírito
de Glória e que a tudo glorifica. Toda a nossa salvação é obra da Trindade.
Basta recordar que o Pai enviou o Filho no Espírito Santo para nossa salvação e
que o Filho se ofereceu por nós ao Pai num Espírito Eterno (cf. Hb 9,14). Eis
aqui outro belo ponto para a contemplação: adorar o amor glorioso e cheio de
misericórdia do Deus Uno e Trino, que se nos revela sempre como amor para nossa
salvação.
Também devemos aprender a contemplar o
que o Pai nos diz: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”. Ou seja: toda a
nossa felicidade, toda nossa vida e nosso único caminho para a verdadeira
glória consiste em ouvir a voz do Filho amado. Esse “ouvir” não significa
simplesmente estar atento à palavra de Jesus, mas, estar atento à própria
Pessoa de Jesus: ele todo é a Palavra que estava junto do Pai e que se fez
carne e habitou entre nós. Assim, amar Jesus, buscar Jesus, seguir Jesus,
contemplar Jesus... tudo isto significa “ouvir” a voz do Filho, que é a única,
plena e irrepetível Palavra que o Pai nos dirige no Espírito Santo!
Um outro aspecto que diz muito de nós e
deve nos levar a um exame de consciência é o seguinte: no Tabor, os três
discípulos se alegram e dizem: “É bom estarmos aqui; vamos fazer três tendas”.
É agradável e desejável estar com Cristo na glória, no gozo, na alegria...
Depois, no Monte das Oliveiras, esses mesmos três não tem coragem de vigiar com
Jesus, dormem, não conseguem estar atentos ao Senhor e ficar com ele! Eis as
lições para nós: Quem participa da glória do Tabor deve também estar disponível
para ficar com Jesus no Horto da Agonia, pois quem não ama a cruz de Cristo não
verá a glória de Cristo! Não se pode ser cristão de verdade sem essa
disponibilidade para estar com Cristo nos momentos de cruz e escuridão! Nunca
compreenderá de verdade o significado da glória de Cristo quem não participou
também da agonia de Cristo. Sem participar da sua cruz, a participação na sua
glória seria num sentido interesseiro e mundano, glória do mundo, que não passa
de busca de si próprio, que escraviza e não leva a Deus. Somente participando
da cruz do Senhor é que experimentaremos o verdadeiro significado e a
verdadeira doçura da glória do Senhor. É por isso que Cristo proíbe aqueles
três de falarem sobre isso até que ele tenha ressuscitado dos mortos. Somente
depois que o virem morrer é que compreenderão o significado da glória da sua
ressurreição e da esperança que ele nos prepara!