5. A crucificação e morte de Jesus



Leitura: Mt 27,32-50; Mc 15,21-41; Lc 22,26-49; Jo 19,16b-30
Este último mistério doloroso é primeiramente uma grande e radical revelação. Para nosso espanto, revela-nos algumas realidades impressionantes: (1) Até onde o homem foi com seu pecado – O nosso “não” a Deus, a nossa louca prepotência de pensar que somos os donos de nossa vida e poderíamos viver plenamente longe de Deus, nos desfigurou a ponto de nos fazer matar Deus no nosso coração e no coração do mundo. Jesus crucificado, desfigurado pela dor e pela flagelação, mostra-nos tudo isso! Ele, desfigurado, é imagem da própria humanidade desfigurada pelo pecado e pela loucura de viver sem Deus; ele, crucificado e morto, mostra-nos até onde nós fomos: matamos Deus e continuamos a fazê-lo. Cada vez mais Deus vai morrendo no coração do mundo atual, no coração das famílias, no coração das pessoas. Será que também não o estamos matando no nosso próprio coração? (2) Até onde Deus está disposto a ir com a sua graça – O Senhor é o Bom Pastor que veio procurar a humanidade, sua ovelha perdida! Na cruz Deus nos revela até onde vai o seu amor por nós, até onde nos leva a sério, até que ponto preocupa-se com nossa salvação: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16). Assim, contemplado o Crucificado, podemos ter uma idéia do que significa a afirmação de que Deus é amor, podemos vislumbrar até onde o Senhor realmente nos leva a sério e até que ponto nós lhe somos preciosos! (3) O Crucificado revela-nos também quem somos nós – Tão pobres, tão incapazes de encontrar o caminho, tão cegos e muitas vezes furiosos... Contemplando na cruz aquele Homem de Dores, deveríamos compreender que nossas quebraduras são grandes, nossas incoerências são profundas, tão grandes e tão profundas que necessitaram de tão grande Salvador e tão impressionante salvação! Basta pensar no mundo atual: imoralidade, violência, paganismo, injustiças gritantes, subversão dos valores, culto da mentira e de tudo que é contra Deus... Tão grande miséria, tão grande cegueira, tão grande orgulho, tão grande pecado, tão grande perdição... (4) O Crucificado revela quem é Deus – O Pai de Jesus é tão imensa luz, tão imensa humildade, tão imenso amor, tão imensa misericórdia! Ele não aceita que nos percamos, ele não nos deixa, apesar de nossa ingratidão e de nossa miséria. A cruz é a mais escandalosa e mais profunda e mais subversiva manifestação de quem é o nosso Deus: amor humilde, que prefere morrer a matar, prefere dar a vida para não tirá-la! (5) A cruz nos revela o modo de agir de Deus – Deus que se manifesta na fraqueza, na humilhação, na impotência! Por nós mesmos, faríamos uma imagem totalmente diferente de Deus; um Deus que viria por cima, um Deus que imporia, que obrigaria, um Deus que sufocaria o homem com a imensidão de sua glória... Pois bem, a glória, o poder e a grandeza de Deus se manifestam exatamente na direção contrária: numa surpreendente humildade! Bem que ele já tinha prevenido pelo profeta Oséias: “Meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas comovem-se. Não executarei o ardor de minha ira, não tornarei a destruir Efraim, porque sou um Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti, não retornarei com furor!” (11,8b-9).
Além deste aspecto de revelação, este mistério nos convida a recordar que Jesus foi crucificado para nossa justificação. No “sim” da sua cruz ele nos deu o perdão dos pecados, ele corrigiu o “não” de Adão, o nosso “não”. O mistério da cruz do Senhor nos mostra o quanto não podemos por nós mesmos alcançar a salvação: ela é graça, é dom de Deus! Somos justificados (tornados justos diante de Deus) crendo em Jesus Cristo e aceitando com a nossa vida a salvação que ele nos obteve. Assim, a cruz é um mistério de graça: Deus gratuitamente entregou o seu Filho para nossa justificação, de modo que por graça fomos salvos! Todo nosso mérito só pode ser o de acolher humildemente essa salvação; toda nossa boa obra somente pode ser a de não impedir que a graça de Cristo aja em nós...
Ainda um ponto para nossa contemplação: olhando a cruz do Senhor somos chamados a tomar com ele a nossa cruz. Neste mistério é sempre bom aprender a pedir a graça de levar com amor e dignidade, com paciência e coragem a cruz de nossa vida. Hoje, por ódio à cruz, tão facilmente as pessoas renegam seus valores, traem seus compromissos, procurando ser feliz de um modo fácil e falso, a qualquer preço, de qualquer modo... Assim, somente se constrói o vazio, o nada, a solidão interior! É preciso a coragem de nos unir à cruz do Senhor, nele encontrando força e consolo...
Um último tópico. Aprendamos de Jesus o quanto o Pai é amor, o quanto o Pai é fiel, o quanto o Pai é confiável: Jesus morre abandonando-se ao seu Deus e Pai: “Pai, eu me entrego em tuas mãos! Pai, eu me abandono em ti!” A entrega de Jesus é maior que a dor, maior que o abandono, maior que a solidão, maior que a morte! E por quê? Porque ele sabe que o amor e a fidelidade do Pai são maiores que a própria morte: “Pai, para além da dor e da morte, eu confio em ti, eu me entrego nas tuas mãos benditas!” Sejam estes os nossos sentimentos e atitudes nos vários reveses da vida!