5. A instituição da Eucaristia



Leitura: Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,19-20; Jo 6,51-58; 1Cor 11,23-25
Muitas coisas poderiam ser contempladas neste mistério. Vou tomar cinco pontos, que podem ser de grande utilidade e edificação espiritual para nossa vida.
1. Na instituição da Eucaristia Jesus realiza sacramentalmente a consumação de sua vida que, na Sexta-feira Santa, realizou na cruz. Toda a sua existência, desde a concepção no seio da Virgem, foi uma entrega ao Pai por nós. Ele nunca teve tempo para si mesmo, nunca se buscou, nunca se poupou, nunca procurou sua vontade. Ao final de sua existência, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo, até o fim” (Jo 13,1s). Então, toda a existência de Nosso Senhor foi uma existência para o Pai em favor dos outros, em favor dos seus discípulos e irmãos. Agora, na hora de consumar essa vida vivida como entrega total de si, o nosso Salvador, deixa sua entrega num modo sacramental, para que fique presente no coração da Igreja e do mundo até que ele venha. Na Eucaristia a entrega de Cristo, vivida uma vez por todas na sua humana existência, torna-se continuamente presente sobre o Altar para que nós a recebamos em verdade. Cada cristão de cada época e de cada lugar pode dizer, participando da Eucaristia e recebendo o Corpo e o Sangue do Senhor: “Ele me amou e se entregou por mim!” (Gl 2,20).
2. Contemplando o Cristo que se entrega totalmente no simples sinal do pão e do vinho, tornando presente sua entrega total até a morte de cruz, nós somos convidados a compreender a lógica do Reino de Deus: ele não vem em grandes e vistosos feitos, nos gestos teatrais, no poder mundano, derivado do prestígio, da riqueza, do comando... Não! A lógica do Reino aparece no que é pequeno, no que é fraco, naquilo que aparentemente não conta e não tem importância. Que pode haver de mais trivial que um pedaço de pão, um pouco de vinho, umas gotas d’água? E, no entanto, nestes pobres elementos o Senhor se dá a nós e faz-nos participar da sua entrega de amor e já participar das coisas do céu. Esta contemplação deve nos fazer descobrir o valor das coisas pequenas, da fidelidade no cotidiano. Ali Deus se revela, ali nós somos convidados a viver na nossa carne a Eucaristia que celebramos na santa Liturgia.
3. A Eucaristia é também a missão e o destino da Igreja. É sua missão por dois motivos: primeiro, porque o Senhor mandou que ela a celebre em sua memória até que ele venha. Celebrando-a, a Igreja cumpre o mandato do seu Esposo e experimenta realmente sua presença. Em segundo lugar, é sua missão porque tendo escutado o Senhor na Escritura e partido com ele o pão, a Igreja experimenta que ele está vivo realmente, que realmente caminha conosco. Assim, como aqueles dois de Emaús (cf. Lc 24), ela deve sair pelo mundo em missão para anunciar que em verdade o Senhor ressuscitou e caminha conosco como Salvador e Senhor até o fim dos tempos. Deste modo, participar da Eucaristia, ouvindo o Senhor e partindo com ele o pão eucarístico, tornamo-nos suas testemunhas. A Eucaristia nunca é uma realidade somente entre nós e o Senhor. Nós dela participamos como Igreja e Igreja que é missionária de Cristo na nossa vida e no nosso mundo.
4. Outro aspecto importante é ter sempre em mente que a Eucaristia prepara nossa participação no Banquete da glória eterna. Participar da Eucaristia é participar das coisas do céu, é experimentar aqui na terra a glória do mundo que há de vir! Assim, nunca devemos perder de vista que comungando com o Senhor morto e ressuscitado nos tornamos herdeiros da sua santa Ressurreição. Quanto consolo, nos apertos e cansaços da vida, nutrirmo-nos do alimento que faz crescer em nós a vida eterna, aquela mesma que herdaremos em plenitude após a nossa santa morte: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”.
5. Um último aspecto. A Eucaristia é o sacrifício de Cristo. Cada vez que a celebramos, oferecemo-lo ao Pai, como Senhor, Cordeiro imolado e ressuscitado, Aquele que está de pé, vitorioso, ante o trono do Pai, mas, ao mesmo tempo, é eternamente Cordeiro imolado (cf. Ap 5,6). Assim sendo, celebrar a Eucaristia, participando do Corpo e Sangue do Cordeiro imolado, somos chamados a colocar na nossa vida o Sacrifício que celebramos, celebrando na vida o que oferecemos no Altar. É o que nos diz São Paulo: “Exorto-vos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto no Espírito. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2). Então, não pode participar da Eucaristia quem não estiver disposto a completar na sua carne, a viver na sua vida a entrega do Senhor Jesus ao Pai!