1. A Anunciação do anjo e a Encarnação do Verbo




Leitura: Lc 1,26-38 
Este primeiro mistério gozoso é profundamente centrado no evento da Encarnação: não é a Virgem, mas o Messias-Salvador o centro de nossa contemplação. Aqui somos chamados a admirar o misterioso plano salvífico de Deus que, quando chegou a plenitude dos tempos, fez aparecer a plenitude da graça, enviando o seu Filho ao mundo: em Jesus, Deus se humaniza, Deus começa sua aventura humana, numa profunda obediência ao Pai (cf. Hb 10,5-7) e numa profunda humildade, num impressionante esvaziamento: fez-se homem, de Maria, a Virgem (cf. Fl 2,5-7). 
Se Cristo é o centro, no entanto, este mistério convida-nos também a contemplar a atitude da Virgem Maria. Ela é imagem vivente do Antigo Povo, a Filha de Sião, que é convidada a alegrar-se com a chegada do Salvador-Messias (cf. Sf 3,14-18; Is 12,6; 54,1-17; Zc 2,14-17). Para ela, a Pobre de Nazaré, o Senhor voltou o seu olhar misericordioso e nela realizou maravilhas! Ela é lugar da manifestação graciosa de Deus: seu nome é Toda-Agraciada! 
Unindo o Filho que se encarna e a Mãe que o acolhe, aparece misteriosamente a obediência, o “Sim” de total disponibilidade ao Pai: o sim eterno do Filho, que ecoa no tempo através do sim da Virgem Maria. Assim, aparece o quanto a salvação do mundo e da humanidade manifesta-se na atitude de obediência, o contrário da atitude do pecado original: a humanidade voltará pela obediência Àquele de quem se afastou pela covardia da desobediência. O Criador e a criatura, de modo admirável e incompreensível, comungam nessa obediência ao plano amoroso de salvação... 
Somos convidados a contemplar a atitude crente, madura e disponível de Nossa Senhora: crente porque se confia totalmente ao Senhor, como Abraão, que “partiu sem saber para onde ia” (Hb 12,8): casamento, futuro, filhos, tudo isso a Virgem Mãe deixou nas mãos de Deus, sem pedir explicações, sem pedir provas, sem pedir garantias... Atitude madura porque humildemente procurou compreender o quanto possível o plano de Deus a seu respeito para melhor aderir a ele; atitude disponível, pela sua insuperável resposta ao convite do Senhor: “Eis a Serva!” – Não se pertence a si própria, não considera sua vida e seu destino a partir de seus interesses e projetos; ela se confia total e absolutamente ao seu Senhor e Deus.