1. O batismo de Jesus
Leitura: Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc
3,21-22; Jo 1,24-34
Este primeiro mistério luminoso é
riquíssimo de significado. Vamos contemplá-lo tomando cinco aspectos, quatro
facetas desta riquíssima realidade:
1. O batismo do Senhor marca o início
de seu ministério público. É verdade que o Senhor Jesus começou sua obra de
salvação no momento mesmo de sua Encarnação no seio da Virgem Maria (cf. Hb
10,5-7); ele foi nos salvando nos nove meses de gestação de sua Mãe, na pobreza
de seu nascimento, nos anos pobres e apertados de Nazaré, na vida pequena e
silenciosa de cerca de trinta anos... Em tudo isso ele foi entrando na nossa
vida, no nosso tempo e tudo redimindo, a tudo dando um sabor de eternidade.
Mas, se Jesus somente tivesse vivido e morrido entre nós, sem pregar, sem
anunciar explicitamente o Reino por palavras e gestos poderosos e cheios de
autoridade, se não tivesse escolhido apóstolos e fundado sua Igreja, jamais
saberíamos que Deus nos visitou, que fomos salvos e jamais poderíamos responder
conscientemente com nossa fé a esse anúncio de salvação. Assim, batizado no
Jordão, Jesus é publica e oficialmente apresentado como o Messias esperado por
Israel. Nele, se cumpre as esperanças do Antigo Povo e Deus revela sua
fidelidade: quando promete, não trai jamais!
2. É impressionante e deve nos inspirar
a humildade do Senhor Jesus: ele, que na infância toda submeteu-se humildemente
à Lei judaica, agora entra na fila dos pecadores para ser batizado por João.
Não somente entra na fila como um qualquer, mas na fila dos que se reconhecem
pecadores, necessitados de arrependimento e perdão. Jesus, que não tem pecado,
veio assumir nossos pecados para nos libertar dos pecados. Ele é o cordeiro que
veio tirar os pecados do mundo. A imagem do cordeiro deve nos recordar o
cordeiro sobre o qual o sacerdote impunha as mãos, confessando os pecados do
povo. Depois ele era mandado para o deserto. Assim também Jesus: carregando os
nossos pecados foi crucificado fora dos muros de Jerusalém, como um rejeitado
por Deus e pelo seu povo (cf. Lv 16,5-22; Hb 13,12s); o cordeiro é ainda imagem
do cordeiro sacrificado e oferecido a Deus pelos pecados do povo (cf. Lv
16,5-22) e, finalmente, é imagem do cordeiro pascal, sinal da libertação do
povo de Deus. Dele, nenhum osso deveria ser quebrado (cf. Ex 12,46; Jo
19,33-36). Pois bem, na fila dos pecadores Jesus se nos apresenta como esse
humilde e despojado cordeiro de Deus.
3. O batismo é também o momento da
unção messiânica do Senhor. Ele é o Ungido, isto é, o Messias. Já ungido em sua
humanidade santíssima, plasmada desde o primeiro momento na potência do
Espírito Santo (cf. Lc 1,35), recebe agora uma unção pública (que será unção
plena na ressurreição – cf. At 2,32.36) com vistas ao seu ministério público. A
partir de agora, Jesus será pleno do Espírito Santo, que o conduzirá na sua
missão (cf. Jo 1,33-34; Mc, 1,12; Lc 4,14.17-18; 6,19). Será este mesmo
Espírito que o Senhor entregará na cruz ao Pai e receberá de volta de um modo
novo na Ressurreição, derramando-o sobre nós (cf. Jo 19,30; At 2,32s).
4. É também para nossa contemplação a
palavra de João Batista ao apresentar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo!” (Jo 1,19). A palavra aramaica é talya que
significa ao mesmo tempo cordeiro e servo. Jesus será o Messias Servo Sofredor,
cordeiro que morrerá pelos pecados do mundo (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11;
52,13 – 53,12).
5. Finalmente, há neste mistério, uma
clara manifestação da Trindade Santa: o Pai apresenta o Filho, ungido-o com o
Espírito; o Filho humildemente se deixa ungir, como enviado do Pai e seu Servo
Sofredor; o Espírito Santo, deixa-se enviar pelo Pai sobre o Filho, em quem
repousa e permanece para a missão. Ao aparecer em forma de pomba (como a pomba
que, após o dilúvio, trouxe no bico um ramo de oliveira, da qual se faz o óleo
da unção), o Espírito manifesta Jesus como aquele que, ungido, é o início de
uma nova criação e nova humanidade, como o mundo logo após o dilúvio.